Artigo
Alimentos ultraprocessados e doença mental
Por Paulo Rosa
Médico do Hospital Espírita
[email protected]
Por Maristela Siqueira
Nutricionista do Hospital Espírita
Neste último 14 de maio de 2023 deu no New York Times uma notícia inquietante para todos: refere-se que “comer alimentos embalados como cereais e comidas congeladas se associou [estatisticamente] com a ansiedade, a depressão e a deterioração cognitiva. Os pesquisadores ainda estão na busca para decifrar a razão”. A autora, Sally Wadyka, destaca que nos Estado Unidos cerca de 60% das calorias de uma dieta, digamos, média do povo americano provém de alimentos altamente processados, AUP. Pode-se acreditar que esse padrão estadunidense está espalhado pelo mundo e, sem dúvida, atinge em cheio nosso País.
Algo que já se conhece há décadas é que comer com frequência certos cereais, barras de cereais, comidas congeladas, entre outras – todas elas saborosas e oferecidas de forma atraente e de fácil acesso –, levam a maior risco de diabetes, obesidade e, inclusive, câncer. Mas não só. Nestes últimos dez anos, os pesquisadores evidenciaram que os AUP atingem também o cérebro e, acrescentemos, inclusive a mente. Quanto mais se comem tais alimentos, maiores as probabilidades de que “a pessoa se sinta deprimida e ansiosa”. Pesquisas menos numerosas vêm demonstrando que há, ainda, risco de que se afete também a cognição.
Estudos do médico brasileiro epidemiologista Carlos Augusto Monteiro e sua equipe da Faculdade de Saúde Pública da USP, em 2009, que tiveram repercussão internacional, mostraram que há quatro tipos de alimentos: desde os não processados; um segundo grupo, os minimamente processados, tipo, frutas, verduras, arroz e farinha; um terceiro grupo, os processados, como azeites, manteiga, açúcar, produtos lácteos, alguns enlatados, como carnes e peixes defumados e; por último, os AUP, que levam colorantes, edulcorantes, emulsionantes, conservantes. Estes, disse Monteiro, “não são comida, são formulações”, que, seja ressaltado, têm poder viciante, são quase “aditivos”.
Os AUP constituem a maioria dos alimentos embalados, fartamente disponíveis nos supermercados e nos menus de “restaurantes” (coloque-se entre aspas) de comida rápida. Nos Estados Unidos, e possivelmente no Brasil, uns 70% dos “alimentos” embalados são AUP, cujo consumo se expande crescentemente, atingindo todas as classes sociais e “estão deslocando cada vez mais os alimentos mais sadios”.
Em outro estudo, de 2022, com mais de dez mil adultos, nos Estados Unidos, evidenciou que quanto mais comiam AUP, maiores as probabilidades de apresentarem depressão leve ou sentimentos de ansiedade. As pesquisas não demonstram uma relação de causa e efeito, mas já são nítidas as correlações.
Sabe-se hoje que o intestino é “um segundo cérebro” e trabalhos recentes indicam que os aditivos químicos dos AUP levam a alterações da flora intestinal.
A dieta influencia no ânimo e o ânimo, i.e., a mente, na dieta. Esta associação de mão dupla traz riscos e exige cuidados e investigação constante.
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